terça-feira, 12 de junho de 2012

[POEMA] Da inexperiência nada ficou

Nada ficou da inexperiência,
Que flutua como cirro em fuga.
Hoje brindamos o cálice do futuro
E ele entorna as lágrimas acumuladas.

Três anos.
Dez vidas.
Muitas horas de desassossego.

Valeu a luta, o riso e o choro
Pelo sorriso de hoje, com brilho nos olhos.
A caminhada difícil, a oscilação na jornada
Os altos e baixos.
Mas chegamos todos.

Dos maus momentos, as lições,
A cura das quedas,
A saudade dos amigos
E as férias.

Que venham o horizonte e os desafios,
Os riscos do caminho,
E a aclamada felicidade,
Bem-vinda desde o início da jornada.

E da inexperiência?
Nem saudade ficou.




Este foi composto para os meus eternos amigos do Ensino Médio, quando de nossa formatura, em 2001.

[POEMA] Solidão Provisória

O pior não é ficar sob a calha
Ouvindo a chuva martelar tão forte
Que parece ter esperado por séculos.

O pior não é passar a tarde esperando o chamado
Daquele que não vem;
Não é ouvir as palavras duras,
Trajadas de piadinhas, eufemismos terapêuticos.


O pior não é o medo, calmaria ou tragédia,
Não é ver os passarinhos partindo, sem poder ir junto,
Não é o risco do dia a dia.

O pior é olhar para o lado
E não encontrar quem ouça.
Os poucos que poderiam
Estão ocupados com seus próprios afazeres
Ou rindo de algum coitado que ludibriaram
Contando vantagem por algum golpe
E maquinando novos planos.

O pior é querer fugir da solitária e ser forçado a ficar
Talvez porque não confie em mim
Ou confio demais, quem sabe?

Talvez o meu grande Amigo,
O que trouxe a chuva, a calha, a fala, as tragédias,
A solidão e os que dela se nutrem.
Que sabe, Ele sabe?


Aonde devo ir? Que faço agora?
Diante de águas calmas, aonde vou
Parece tão calmo, tudo azul
Gotas de chuva brincando em meu rosto.


Desejaria apenas ser eu.
Ninguém nos carros, nos bancos, nenhum passante na rua
Apenas as águas e eu, a lagoa e a chuva
Uma refletindo e uma turvando,
Réplicas perfeitas dos humanos que me cercam.
Só que as águas não sabem o que fazem.


Confusão brota num fim de tarde chuvoso.
Até esqueci-me da solidão.
Estará perdida no fundo dessas águas,
Presa nos aguapés, levada pela chuva?
Ou estará apenas escondida, travessa,
\por trás de meus olhos,


Esperando que se desviem da lagoa,
Devaneando, para emergir outra vez?

domingo, 3 de junho de 2012

[POEMA] Andarilho

Lá vai o andarilho
No passo trôpego e borracho
Vai pelo caminho, maltrapilho
Ninguém sabe que ventos o levaram ali.
Perdeu a mulher e dois filhos
Na casa do morro que desmoronou
A cama onde nasceram Pedro e Paulo
Agora é seu túmulo, junto à mãe.


Perdeu o emprego, o andarilho.
Tentando salvar a família, desandou.
As roupas novas do trabalho,
Esfarrapadas de chuva e lama,
Caminham sem rumo, no maltrapilho:
Ziguezagueando no acostamento
Ele abusa da sorte que nunca dura.


Um bêbado, voando no chão,
Faz voar o andarilho
Dez, doze metros encosta abaixo
Era uma vez um andarilho
Mais uma porta fechada em cova rasa indigente.
Sonhava morar na praia, mulher e filhos
Um cão, dois gatos, cantar repentes.
Sonho morreu na sacola rota do maltrapilho:
O bilhete premiado enterrou-se junto,
Na cova rasa anônima.


Morreu triste e louco, o andarilho,
E o bêbado que voava saiu do cerco em três dias
Dorme tranquilo, na cama de dossel
E não se lembra do maltrapilho no caminho.

*Esta é do ano de 2005, escrita logo após a visão do misterioso andarilho, em uma das curvas do caminho.

[POEMA] Se se vive de paixão

Se se vive de paixão? Certamente que sim,
Se o brilho no olhar enternece
E te entorpece o toque cálido,
O som, a cor, o aroma carmesim.
Se há o brilho que transcende a alma
- Esta que, feliz, na confusão dos hálitos,
Salta no peito em suspiro profundo.
Então se vive.


Os traços fortes e o gigante abraço
Nos braços te mantém, imponente e seguro;
Os cabelos macios e a pele morena
Recendem a sonho, mas te podem lograr.
Se paixão não é, cuida que não seja ilusão,
Alusão ao amor ideal que evanesce no ar
E que conhecemos por outro nome.


Na paixão se vive de tormento e glória,
Do jogo de extremos, redenção e dúvida;
Do beijo no fim do outono aos reencontros primaveris.
Dos risos vis invadindo a amargura
E os toques cálidos, o frio.
Se o brilho no olhar enobrece e te entorpece o toque chiste,
Esta é a verdadeira paixão e dela se vive,
Certamente.

* Porque acordei um tanto Gonçalves Dias hoje ^^




Comentários Anteriores...

Aione Simões disse...
Ahh esse poema é lindo!
Pode acordar Gonçalves Dias todos os dias e continuar trazendo poemas belíssimos como esse!
Beijão, flor!

[POEMA] Chuva

A mesma chuva que traz sorte,
Que molha e que lava,
É a chuva que corre
Rua após rua
Molha os pés
E derruba algumas lágrimas

É a chuva que corre,
Que me faz lembrar de mim,
Que lava o rico e o pobre,
O mau e o nobre,
Que limpa as almas e os desalmados
E pode derrubar alguns telhados

Uns dizem que traz sorte
E, chegando agora,
Ela me faz lembrar dos que já considerava esquecidos
E derruba algumas barreiras.

A chuva que chove
E me faz chorar
Cai e corre e molha e lava
E me faz nova


E me faz lembrar
Que ela costuma esconder as lágrimas
As nuvens cinzentas carregam os sorrisos,
Chovem os olhos
E fazem chover os corações.




Comentários anteriores...

Laerte disse...
É verdade, o tema Chuva é bem apropriado ao momento em que nosso país vem sofrendo grandes catástrofes. O sentimento em suas palavras é verdadeiro e é por isso que sempre estou aqui apreciando sempre seus textos. Você é demais! Abraços!

Laerte Lopes
www.laerte-lopes.blogspot.com

sábado, 2 de junho de 2012

[POEMA] Banco de Pedra II

E eu aqui,
Sentada no velho banco de pedra
Anda espero


Que os olhos venham a mim
Que o sorriso eu torne a ver
Que o perfume me torne a envolver


Nada valem os bens do mundo
Todas as pedras, flores e folhas
Cada gota d’água sem ter como partilhar


Dá-me serenidade para esperar
Coragem para falar,
Olhos para escutar, saber, sentir,
Olhos que doem abertos
Ao verem o que não querem


Em que espelho perdi minha alma?Porque não tenho a minha força como antes?

[POEMA] Estranhos na noite

Vagando a noite sem lua,
Encontrei-o.
Tão triste, cabisbaixo,
Aproximei-me.


Toquei os cabelos finos,
A face acariciei,
Tentei conversar,
Nada além pensei.
Seus belos olhos de mar,
Claros, estranhos demais,
Causaram terror e tanto.


Enfeitiçada,
Convidada a sonhar,
Por olhos ou lábios, não sei,
Perguntei o que havia de errado,
E se poderia ajudar.


Mas ao mover a boca,
Caninos ao meu encontro
Pescoço cravado, fui ao chão.
E, com as mãos no rosto,
Ele sumiu na escuridão.


Estranho me levou à dor,
Levou meu sangue e coração.
Comigo, levo a vida,
Aqui, deixo o perdão.
E quando encontrá-lo, estranho na noite,
Não quero teu sangue ou carne,

Mas ser teu pensamento e ação.


Ainda vago pela noite
No desconhecido, à procura.
Onde foi que errei o caminho?


*2000
Este era o favorito da minha professora de História, Geral. Ela gostava dos amores sobrenaturais =D


Comentários anteriores:

Laerte disse...
Olá This, ótimos versos estes hein? Até para o sobrenatural tu tem habilidade hein? Isso que é uma escritora completa! Abraços querida!
www.laerte-lopes.blogspot.com

[POEMA] Banco de Pedra I

Por que triste, menino tolo?
Isso não é para ti,
No bosque desses olhos
Não se caça sofreguidão
Um rosto feito para sorrir


Qual é a do meio sorriso?
Ciência que desentendo e vivo
E que me serve de mergulho
No vento e no frio.


A beleza de um sol poente
Lembra que tudo é renovado
Que vai o escuro e vem o brilho de um rei
E até a noite mais escura
Forja o brilho das estrelas


Navego num sonho sem rumo
Sonho ingênuo, viramundo
Exagerado, vagabundo
Que se recusa a voltar atrás.


Aqui fica a tua pequena,
Rosto alegre, coração triste,
Procurando uma força que já não existe
Ou que não cabe em mim.


Mais uma vez no banco de pedra
Desejando que onde quer que esteja
Amor te abençoe e proteja
E nunca morra o teu sorrir.

[POEMA] Em poucas palavras

Tua boca tem algo mágico que não entendo
O sorriso mais lindo que já existiu
Mistério, coisa que nunca se viu
Quanto mais descubro, menos compreendo


Teus lábios têm algo que chama
Um calafrio que a pele aquece
Que, num só gesto, meu corpo entorpece
E transmuta inteira esta que te ama


Quisera eu entender o que me passa
Quando imagino tua boca a aproximar
E despertar em ti os mesmos desejos


Dizer que o amo, não importa o que faças
As mãos em teu cabelo deslizar
E provar do misterioso sabor de teus beijos.


* Composição de 2002


Comentários anteriores...

Celly Monteiro disse...
Bom saber que teus talentos não se limitam a prosa, belissimo poema This, diz ai, de onde saiu este tem mais? Adoro poemas!

[POEMA] Pais

Como encontrar luz em momentos como este
Nuvens carregadas cobrem a manhã
O coração enfurecido urra com a impossibilidade
As mãos atadas se retorcem.


Como procurar amor em lugar assim
O sol se esconde, raios se esgueiram e cegam
Os pés atados se contorcem
O coração ensandecido se expande nas correntes.


Como achar paz num lugar desses
A solidão confinada ensandece
O coração transpassado sangra decepção
Onde está o mar, quando precisamos de um empurrão?


A vida obscurecida padece,
No coração, o fogo eterno se consome
Lembrando daqueles que partiram e não vêm maisPara que as fortunas quando você só precisa de Paz?

[POEMA] Tarde

Na última vez em que vi o sol dormir
Foi o sono mais lindo.
A última chuva, uma tempestade na alma, levou todo o mal pela ribanceira.

O cheiro da terra molhada embriagava
Tal qual a brisa fria do lago que adormecia, ao cair da tarde,
E o canto do sabiá, na última orquestra do adormecer do dia.

A última vez em que vi os olhos que amava,
O sol já não importava
E o som da chuva nem causou reação.

A terra secou e eu já não sentia a brisa do lago.
O sabiá deve ter ido cantar para outro alguém
Que talvez, como eu ali,
Adormeceria para sempre.

[POEMA] Quimera

Quisera eu nunca ouvir criança chorar
Que elas não tenham motivo ou vontade
Afora as lágrimas de felicidade,
Vê-las sorrir o sol até o sol acabar.
Quisera eu.



Sonhos e esperanças trancou num malão
Atirou-o ao mar do mais alto monte
Vergadas as costas, suada a fronte,
Passado matou, lançando à escuridão.




Num mar de desilusão, dor e vagar
No abismo das esperanças feridas
Ouvi-a chorar, desejei que parasse.
P'ra evitar que ali eu também desabasse
Nas más lembranças da infância perdida.
Quisera eu ter só um ombro p'ra chorar.