domingo, 18 de março de 2012

[POEMA] Quase um soneto de lástima

Quando quebrar-se a consciência
Elo entre alma e corpo
Não tornarás, ó lindo tempo,
A atormentar-me a vivência?


E se a vida me deixar agora
Quem chorará, deitado a um canto?
Quem, por mim, derramará seu pranto,
Lembrando-se daquela que foi embora?


Ó, mal amado, não chora por mim
Poupa-me da cruel piedade
E de tuas lágrimas rubras de rubis.


Mesmo que venha, um dia, a saudade,
Lembrarás daquele tempo, a ingenuidade
Quando duvidavas que chegasse o fim.

*Mais uma do produtivo e saudoso ano 2000.


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Carol R. disse...
Você escreve bem demaiis :)

[POEMA] De mulher a moça e guria, vi minha vida passar no bordado de um sapato de menina

Passo pela vida mais vendo que vivendo,
Mais rabiscando que falando,
Menos narrando que transcrevendo.
Um olhar, duas palavras, três erros.
Crescimento.
E contei com a graça de aprender com os erros alheios.


É o que me vejo, aos 80, contando aos netos,
ao fim de uma tarde fria de outono.
O por-do-sol, na varanda, eterno.


A caminho da casa da avó,
olhando pelo vidro da condução,
Tremo sentada, pela brevidade da vida
que passou enquanto eu lia um letreiro de poste.


À esquerda, uma senhora tudo filtra e dois rapazes matam um goleiro.
E alguém deve ter oferecido ouro a esse motorista, no fim do horário.


O cobrador pega meu vale. Papel.
Ele nem me olha. Gente.
Tantos passam, poucos ficam ou olham para trás.
Laços desnecessários.
É só mais uma viagem.


Sento ao centro, corredor.
No colo, uma filha dorme,
Eu desperto.
Entre um momento e outro, ouvi distraída os sons do dia.
Feitiço.


Os contornos perfeitos daquele bordado.
Nuances, passos em falso no caminho da segurança.
Flores no meio, suave no topo.
Voltas escuras por todas as linhas e brilho no fim.


Ali, vi meu mundo - aos pés de uma criança.
E quem sabe não seria melhor assim?
De mulher a moça e guria, vi minha vida passar no bordado de um sapato de menina.


O corredor.
Admiráveis mulheres com três filhos e uma feira.
Perfeito equilíbrio.
De onde sai o terceiro braço?
Não funcionou com os meus cadernos.


PM, cansado o rosto, cansados os grisalhos.
Há dias de chegar em casa, abraçar as crianças e desabar.
Por que a noite é tão curta?
Pelo menos, dei um beijo nas crianças.
Lar.
De mulher a moça e guria, vi minha vida passar no bordado de um sapato de menina.


Ignorância é uma virtude e uma benção.
Criança, não procure conversas de adulto.
O desconhecimento pode ser um privilégio.
Uma honra, admirar-se com o mundo.
Uma graça, a inocência na alma da criança.
De mulher a moça e guria, vi minha vida passar no bordado de um sapato de menina.


Vê que pais não são heróis.
Também sangram, erram,
Igualmente choram e têm seu lado pervertido;
Oprimem, sonegam, fecham os olhos.
Educação.
Se você falha, "o que fiz de errado?"
Nos jogam o passado e dizem que não ouvimos.
Ou que ouvimos rock muito alto.


Amor? Discutível.
Ilusões, peças.
E no meio de tanta paixonite, percebo que nunca me apaixonei.
A liberdade e seu preço.
Sempre há o que ofusca,
que é como os bailes que já não existem,
é uma canção de Venturini,
o último chocolate e a razão de levantar mais um dia adolescente.
De mulher a moça e guria, vi minha vida passar no bordado de um sapato de menina.


Ainda não plantei. Feijão no algodão não conta.
Ainda não publiquei. Projetos inacabados.
Ainda não procriei. E sem planos.
A semana é longa e seu fim, só uma tarde de domingo!


Passei pela vida mais vendo que vivendo,
Mais rabiscando que falando,
Menos narrando que transcrevendo.


E o amor? Ainda não chegou.
Sinto o peso das minhas palavras.




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Laerte disse...
Olá This, mais uma vez estou aqui para prestigiá-la. Ótimo poema, eu escrevo també, nos faz pensar o que fazemos da vida, o tempo que usamos, se é sábio ou não. Ótimo poema minha amiga, continue assim sempre muito inteligente. ABraços!

www.laerte-lopes.blogspot.com

[POEMA] Dexei o amor na última estação

Deixei o amor na última estação
E ficou para trás o último abraço
Quando fiz a curva na outra estação
Seus olhos ardiam, como se fosse verão
Sumiu o trem, rompeu-se o laço.


Vieram as flores, esperanças e amores
Estribilho de pássaros recém-nascidos
Seus olhos choviam, perdidos nos trilhos
Nas pedras e folhas, no riso e nas dores.

Marcas de neve na paixão comedida
Cicatrizes que ligam os corpos afastados
Saudade que congela amores abreviados
No quarto escuro, luz fraca e despedida.

No arrastar das folhas amareladas,
As palavras sussurradas e jogadas ao vento,
E o desejo de salvar, momento a momento,
O amor de verão em estações descarriladas.

Um amor de verão que renegava seu tempo,
Paixão de dezembro abreviada nas curvas,
Trilhos de ferro e miragens de janela,

No beijo frio, o calor dos olhos dela,
No último aceno, as imagens mais turvas,
E ainda o desejo de salvar cada momento.

Deixei no amor a última estação.

De 27/04/2011

[POEMA] Nebulosos

Sonhos podem ser esperanças,
Podem ser as mãos de uma criança,
Podem estar escondidos num beco qualquer:
Na viela escura,
Na floresta nua,
Num lago ou onde a gente quiser.

Tenebrosos.
Coloridos.
Indecifráveis.
Comedidos.

Por trás de uma cortina cinza,
Sob o véu da realidade,
Ou além do manto azul.

Sonhos podem ser as esperanças,
Podem ser mãos de criança,
Ou alguns balões rasgados.
Podem ser desenhos de um anjo.

Ou podem ser apenas sonhos,
Esperando ser despertados.


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Laerte disse...
Olá This, lindas palavras escritas com muita propriedade! Você escreve muito bem menina! Continue assim que sempre voltarei aqui para ler! Abraços e bom dia!

Laerte Lopes
www.laerte-lopes.blogspot.com

[ACRÓSTICO] Dicas para ser um cidadão atuante

Tenho medo
Ouço fantasmas gritando
Quero matar!
Um ventríloquo político
Enterro insano
Sabem manipular-nos


Políticos
Antiquados!
Ratos de esgoto!
Amigos da onça!


Sela de esconjuros
Expectante cultura expectorante
Rastreador capital


Um país que não tem princípios
Menos ainda terá respeito


Caixinha de surpresas
Indiciando mentiras
Deixa evidências suspeitas
Assim é a política
Dentro dessa caixinha
Acharemos todas as nossas vidas
Ocultas sob trevas de corrupção


Anjo negro
Turmalina empoeirada
Unguento exangue
Arma(ldiçoada)
Nunca seremos libertados?
Terror e consciência
Esperança e evasão.


* Nos velhos tempos de Médio, ano 2000, foi proposta à turma a criação de um texto com o tema DICAS PARA SER UM CIDADÃO ATUANTE, mas eu estava na fase de acrósticos. E com a visão que tinha na virada do milênio expressa assim, conquistei os professores ^^


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Laerte disse...
Hehe, a adolescência é a época em que as idéias surgem tão mais precisas, só falta experiência para colocarmos de modo inteligente no papel! Mas você já nesceu um gênio! Saudades dessa época!

wwww.laerte-lopes.blogspot.com

[POEMA] Pena

Pudera eu consolar teus olhos
Que, de tão belos e distantes,
Parecem não querer ver.


Quem dera consolar teus lábios
Secar as lágrimas que os umedecem
Envolvendo-os com os meus.


Quisera eu ter algo que despertasse
Tua atenção à minha presença
Ao teu lado, sou grão
Na imensidão do lugar nenhum
Aonde teus olhos se dirigem e se perdem.


Pudera eu abraçá-lo,
Adormecê-lo em meus braços
Afagar-lhe os cabelos
Sentindo ali
Que poderia o mundo ruir
Nada me afastaria dos olhos claros.


Que pena
O sol ter de despertar,
Romper-me as pálpebras a raio,
Compelir-me a acordar
E, tristemente, enterrar o sonho
Que, no último adormecer,
O mesmo sol descortinou.

De 29/12/10

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Laerte disse...
QUe versos lindos Thisinha! Sei que nem sempre é possível, mas tento entender especificadamente sobre o que você está querendo dizer, mas não se pode. Mas te digo que está excelente minha amiga! Um grande abraço!

Laerte Lopes - Blog Medo

quarta-feira, 14 de março de 2012

[POEMA] Estrela

Então, estrela,
Por que brilha insistentemente colorida?
A provar que é, do topo, a mais bela,
A explicar que ainda há esperança,
Ou que ainda não é hora de expirar?


Esse brilho morno, estrela,
Aquece meus olhos e vai aonde não posso chegar
Da rósea cor de estrela ao verde frio do amanhecer

Adormecendo-me a consciência
Forçando-me a anoitecer.


Como pode assim brilhar, estrela,
Sobre a minha casa e Marte,
O juiz e o julgado,
E sobre todos os mares?
Sobre o árbitro e o ambulante,
O indigente e o presidente,
O herói e o intratante?


Só quero saber, estrela,
Se está fazendo gênero
Ou eu não percebi teu brilho sobrehumano,
Igualitário e soberano,
Firme e forte e cheio de vida
Que hoje vai, amanhã volta
E fica.


Que revele um outro dia, estrela,
Quem sabe, em outro lugar.
Depois da próxima curva,De onde melhor eu te possa ver brilhar.

E descobrir, enfim,

Por que brilha ainda colorida:
A mostrar-se, do horizonte, a mais vívida,
A explicar que tudo tem volta,
Ou que tem prazo para expirar?



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Niii disse...

Amo estrelas, poesia..
vc é a autora!?

bjs
Ni 27 de janeiro de 2011 11:16


Laerte disse...

Muito bom Thisinha seu poema! Parabéns querida! Belas palavras para descrever a relação estrela/homem. As vezes tiro tempo para observá-las, ler este poema me fez lembrar das noites que passei em um interior! Parabéns!

Laerte Lopes
www.laerte-lopes.blogspot.com 27 de janeiro de 2011 14:13

[POEMA] Sede

Turbulência, ventania
E um clarão fulminante cegou milhares
De repente, o dia fez-se noite
E o céu chorou carbono
Sentiram-se as carnes fervilharem
Corpos retalhados a calor
Quiseram água, a aliviar o fervor
Mas ao contato com o corpo fervente
O líquido frio, o choque
Fez desfalecerem


Nossos filhos queimados
Nossas mãos queimadas
Nossas vidas em combustão
Por culpa da guerra
Pelas mãos de quem não tem alma,
Mas o prazer de tirar as alheias
Tudo pelo capitalismo!
Tudo pelo poder!
Tudo por vencer!
“Matamos mas fazemos”.

Idiotas sedentos.

* Este também foi dos idos de 2000, da minha fase adolescente e amplamente produtiva.


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Raphaela disse...
É de sua autoria?!
Gostei :D
Beijos
Rapha - Doce Encanto. 24 de março de 2011 14:28
 
Laerte disse...
Muito bom This! A adolescência nos traz inspirações múltiplas, também tenho saudade dessa época produtiva! Até mais This e desculpa pela ausência, muito trabalho. Beijus!
Laerte Lopes - Blog Medo 24 de março de 2011 15:01
 
Celly Monteiro disse...
pelo tema do poema dar para perceber que adolescente tu foste. Muito bom, bem forte e de palavras bem escolhidas, me fez lembrar a música-poema "Rosa de Hiroshima". ;) 30 de março de 2011 21:19

[POEMA] A Troca

Por ver novamente os olhos castanhos vivos
Único sopro morno naquela terra morta
Teria lutado mais um pouco - quanto mais, não importa,
Desde que eternizado aquele brilho.


Pudesse torná-lo imperecível, não vê-lo cair no Ocaso,
Teria partilhado ares, trocado vidas, dividido espaços,
E mais uns sapos engolido.
Até aceitaria vê-lo em outros braços.


Sapos ainda são ditos.
Os espaços, quase completos.
Vidas seguiram e a terra parece mais viva.


Trocaria de lugar por vê-lo aqui.
E muito mais faria, só por não ter de ver fechados
Os olhos castanhos mais lindos que já vi.


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Aione Simões disse...

Que poema lindo, This!
Adoro suas poesias!
Tão apaixonadas!
Beijos! 20 de outubro de 2011 17:26

HONORATO,Sandro. disse...

Ola´*--*
Adorei o post.
Adoro poesias e vejo que você tem talento :)
Beijos 20 de outubro de 2011 18:49

[POEMA] Se o mundo estivesse para acabar...

Se o mundo estivesse para acabar
Eu aproveitaria para tudo inverter:
Diria Eu Te Amo aos que penso odiar,
Amaria em dobro os que não quero perder.


Traria ao mundo um novo ser,
Mostraria o valor de quem sabe amar
E lhe ensinaria o prazer de ler,
o maior tesouro que se pode herdar.


De olhos fechados e coração aberto,
eu contemplaria os perfumes e as cores,
Experimentaria os sons e os sabores
que pairassem nesse sonho desperto.


Minha última lágrima trairia a tez
ao lembrar que, só uma vez, vivi.


Comentários Anteriores:

Laerte disse...
Muito bem This, ótimo verso, fico pensando também o que farei quando este dia chegar, sendo que nunca saberemos, mas é uma questão a muito se pensar! Mais uma vez desejo muito sucesso em seu trabalho, te admiro demais!

www.laerte-lopes.blogspot.com
Liz.zy Jenks disse...
Lindo! *______*
Realmente nos faz pensar no que faríamos se o mundo estivesse para acabar!
Temos que aproveitar melhor nosso tempo, nunca se sabe quando isso vai realmente acontecer! ^^
Beijo grande e sucesso!!! ^.^

[POEMA] Temo o que treme na terra das cerejeiras

Terra treme
Treme o peito
A coragem
E o coração

Bomba explode
Chuva apaga
O fogo
A corrosão

Chora o filho
Chora o pai
A morte 
E a devastação

Mar avança
Nas cerejeiras
Que tremem
E incendeiam

Raia o dia
Noite adentro
Segue o medo
Nas ruas vazias

E a natureza, em seu suspiro profético,
Abaliza: Isto é só o começo.

Escrito em 16/03/2011


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Nanda disse...
Ei This,
Nossa sinistro o final do poema, gostei muito. Parabéns :)
O mundo ta muito doido mesmo ultimamente, fiquei boba quando vi do Japão na tv.
bjo

Celly Monteiro disse...
A mesma sensibilidade em palavras que tocam.
"E a natureza, em seu suspiro profético,
Abaliza: Isto é só o começo."
Sim, infelismente pode ser só o começo!

[POEMA] Súbito

Talvez eu termine os meus dias só,
Num quarto escuro frio, sentada a um canto
Ninguém do lado de fora, nem aqui dentro.
Talvez eu nunca tenha filhos,
Nunca receba flores,
Não inspire como fui inspirada
E nenhum poema fale de mim,
Na prisão.


Quem sabe meu coração dará um salto
E, nesse único, posso perder-me?
Talvez o meu nome seja apenas gravado
Na lápide congelada. Que fiz da vida?
Sendo a fraqueza a qualidade do covarde,
Ainda deixei-a vencer. Quem sou?
Encarcerada.


Por que deixei o cansaço vencer?
Por que fui montanha?
Por que não chorei uma só vez
Nem fui mais forte e feliz e brava?
Por que provo o vazio e escuridão
E me sinto vigiada?


Não é culpa do anjo, se baixei a guarda.
Será dos corações diferentes?
Uma declaração, dois beijos,
Uma morte inexplicada e o meu sonho acaba.
Cá estou novamente, tentando descrever
O que ficou detido no coração
No mesmo velho banco de pedra,
Criado por cinco horas de sono
E dez minutos de inspiração.